Para diminuir desigualdade de gênero em seus locais de trabalho, empresas precisam se comprometer verdadeiramente com a causa

Isso significa que as corporações não podem contratar mulheres apenas para estarem antenadas com as novas tendências, mas porque acreditam em sua competência e que irão agregar valores à organização

Mulheres que ocupam cargos de liderança ainda precisam lutar contra muito preconceito para serem respeitadas no ambiente de trabalho. É o que mostra estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Divulgado, em junho de 2023, o levantamento revelou que duas em cada cinco pessoas acreditam que os homens se saem melhor como executivos do que as mulheres. Para diminuir desigualdade de gênero em seus locais de trabalho, empresas precisam se comprometer verdadeiramente com a causa Para a mentora, consultora em desenvolvimento e liderança feminina, fundadora do Instituto Bert e autora do livro “Mulheres que lideram jogam juntas”, Daniela Bertoldo, ecos do modelo no patriarcal ainda são sentidos com muita força na sociedade, sobretudo no mercado de trabalho, fazendo com que persistam, entre colegas e empregadores, percepções negativas sobre as habilidades e competências femininas. Segundo Daniela, a fim de mudar esse cenário hostil às mulheres no mundo corporativo são muito bem-vindas iniciativas como o movimento Elas Lideram 2030, do Pacto Global da ONU Brasil e ONU Mulheres em parceria com outras instituições, que quer engajar empresas e garantir pelo menos 30% de mulheres na alta liderança até 2025 ou 50% até 2030. A consultora em desenvolvimento e liderança feminina destaca o poder que este tipo de ação tem para diminuir a desigualdade de gênero, mas pondera que as empresas precisam preocupar-se com esse tema verdadeiramente e não apenas aderir às metas para parecer que são engajadas em causas relacionadas à igualdade e à diversidade. “As empresas têm que acreditar mais na nossa competência e contratar mulheres pelas habilidades, porque temos valores para agregar à organização”, diz. Há ainda um profundo descompasso entre o discurso e as ações no sentido de tornar mais equânime o tratamento entre homens e mulheres no ambiente corporativo, destaca Daniela. “Existe, por exemplo, um discurso de que hoje se valorizam mais as características comumente associadas às mulheres, como a empatia e o cuidado, mas quando elas chegam ao alto escalão isso não acontece ‒ ou pelo menos não é tão frequente. Uma mulher que está em uma posição superior, que se emociona e que chora, não é vista com bons olhos”, declara. Na luta por mais respeito no ambiente de trabalho é mister que as mulheres se ajudem entre si, praticando a verdadeira sororidade, compreendida como solidariedade, empatia e apoio mútuo que visa promover a união e fortalecimento feminino. De acordo com a consultora em desenvolvimento e liderança feminina, apesar de ser um termo amplamente falado, ainda são poucas as mulheres que experimentam a sororidade na prática. “É lamentável, mas as mulheres se veem como concorrentes, não confiam nem cooperam umas com as outras, dificultando a criação de laços”, diz. Daniela explica que essa relação conflituosa que grande parte das mulheres mantém entre si reflete a forma como a sociedade as vê. Conforme a consultora em desenvolvimento e liderança feminina, desde pequenas elas são ensinadas que mulheres que lideram são “mandonas” e crescem acreditando que para serem respeitadas em posições de chefia precisam agradar os homens. Isso faz, segundo a mentora, que para não serem malvistas muitas optem por manter uma conduta mais neutra ante conflitos com pares ou com a chefia (masculina). Segundo a mentora, muitas mulheres introjetam posicionamentos machistas e ao invés de se protegerem mutuamente em um ambiente hostil se dispersam competindo umas com as outras. “Em vez de se acolherem e se valorizarem entre si, muitas demonstram ciúmes ou inveja por não terem conseguido o cargo que a colega conseguiu e fazem de tudo para serem aceitas nesse modelo masculino. E isso só valida o comportamento discriminatório dos homens e a cultura patriarcal”, declara. A consequência dessa rivalidade, de acordo com Daniela, é que os números de líderes mulheres se mantêm escassos, o que dificulta ainda mais a mudança de cenário de desigualdade e diversidade de gênero. “As referências são fundamentais para inspirar outras mulheres. Para querer se tornar uma mulher que ocupa um cargo de liderança, é imprescindível ver mais e mais exemplos delas no mercado de trabalho”, afirma. Assim, destaca a mentora, é fundamental que as mulheres ajam de maneira diferente com relação a outras mulheres, no ambiente de trabalho, de preferência, fazendo o oposto que a maioria dos homens faz quando está em uma condição hierárquica superior. “Não podemos alcançar patamares de sucesso reforçando as mesmas características negativas e detratoras que vemos em nossos pares masculinos”, diz Daniela, enfatizando que “ser uma líder com atitudes sexistas, preconceituosas e desrespeitadoras não faz nenhum bem à causa e ainda reforça o estereótipo de que para ser chefe é preciso se portar como homem”. O que não significa, afirma Daniela, que para isso seja preciso desembocar em um outro estereótipo que assombra as mulheres líderes: aquele que diz que elas devem agir de modo maternal no trabalho. “Não estou dizendo que devemos ser doces e carinhosas, simulando atitudes maternais cuidadoras com subordinados, não é isso. Estou dizendo que devemos liderar com atenção e respeito, não com controle e medo, como geralmente as gestões hierárquicas masculinas são feitas”, conclui. por Jimenes Comunicação

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